JOVENS HISTORIADORES

 

Um amigo diferente




No dia 20 de Setembro, acordei muito eufórica! Era o primeiro dia de aulas e eu precisava de me arranjar (tinha de ficar o máximo!). Depois de tantos meses de férias, estava cheia de saudades do colégio! Não propriamente das aulas, mas mais pelo simples facto de já não ver os meus amigos há muito tempo! Saltei da cama, fui tomar banho, vesti-me, agarrei a mala e passada uma hora estava a entrar dentro do carro! Estava muito contente, mas também não era capaz de esconder o nervosismo, pois ia mudar de ciclo e não sabia para que sala havia de me dirigir.

Cheguei ao colégio… Enfim, nada de especial, as mesmas caras, toda a gente estava à porta do edifício a ver em que turma tinha sido colocada e o horário. Entretanto, encontrei umas amigas minhas e juntei-me a elas. Mostrámos fotografias das nossas férias, contámos as aventuras que passámos e fomos dar uma volta para ver se encontrávamos algo de novo. Às nove horas ouvimos o toque, tínhamos de nos dirigir para o edifício, onde toda a gente (pais, alunos e professores) se ia acumulando, às centenas, à porta do edifício e iam procurando a as suas salas. Deram-nos a indicação de que o 7ºA (a minha turma) tinha de se dirigir para a sala 19, e assim foi, entrámos e tínhamos o nosso novo director de turma a dar-nos as boas vindas, parecia ser um senhor simpático e muito bem disposto; sentámo-nos e ouvimos o discurso do costume. A nossa turma era praticamente a mesma do ano passado, apenas tinham saído dois alunos. De repente batem à porta… pediu licença e entrou, era um aluno novo no colégio, era um rapaz muito bonito, não parecia ser português! Parecia que vinha lá dos lados da Ásia ou da África, devido aos seus olhos esverdeados, rasgados, que sobressaíam no seu tom de pele escuro! O professor mandou-o sentar, mas como ele era novo e como não conhecia ninguém estava um pouco tímido e não sabia onde. A carteira ao lado da minha estava vaga, fiz-lhe sinal para ele se sentar ao meu lado. E foi assim que começou uma grande amizade!

Nunca pensei que aquele rapaz, vindo do Egipto, que entrou tão sorrateiramente tivesse tanto para contar. Pois é… Depois da nossa amizade se ter consolidado e depois de ele já estar mais à vontade perante os nossos colegas, ele contou-me o seu segredo! Ele era imortal. Ele foi escolhido pelo poder dos deuses para representar em vida eterna um famoso camponês, chamado Ramesires. No início fiquei um pouco surpreendida, não estava à espera e pensava que aquilo era inacreditável! Mas enfim, depois de me ter mentalizado, até achei uma certa piada. E ele contou-me, ainda, que antes de vir para Portugal ele era um agricultor e contou-me um pouco de tudo aquilo que sabia acerca da vida no campo.

-Antigamente, os produtos básicos da agricultura do antigo Egipto eram os cereais (trigo duro e cevada, principalmente) e linho. Figos, uvas, tâmaras, maçãs, rábanos, ervilhas, favas e papiro, também estavam entre as produções do solo egípcio.

-Papiro?! O que é isso? – perguntei eu, admirada.

-Papiro é uma planta colectada nas terras pantanosas e utilizada não só para a alimentação, mas também como matéria-prima para uso variado. Como por exemplo, as cordas que eram fabricadas a partir dos seus troncos e, as suas fibras permitiam confeccionar tecidos, desde os mais finos, para o vestuário elegante, até lonas grosseiras.

-Ah! Já percebi! Dá-me outro exemplo de um material que seja utilizado para o fabrico de produtos de uso variado.

-Por exemplo: vimes, juncos e folhas de palmeiras e tamareiras eram utilizadas no fabrico de cestos e cesteiras.

Sabes, é que naquela época a agricultura ocupava as pessoas pouco mais de seis meses do ano, existia, por isso, mão-de-obra para os trabalhos artesanais da aldeia, para a conservação dos canais de irrigação e para as obras “faraónicas”: templos, palácios, monumentos e sepulcros.

-Qual era o tipo de transporte que vocês usavam nessa altura? – perguntei.

-Depende, em algumas regiões do país, eram os burros, que transportavam os vários tipos de produtos para a aldeia. Em outras regiões, os próprios homens efectuavam o transporte. Usavam, para isso, um saco feito de malha, preso a uma armação com duas asas que depois de cheio, era enfiado numa vara, preso pelas asas e fixado com um nó. Então os homens carregando o peso nas costas iam cantando…

-A sério?! O que cantavam eles?

-Ainda me lembro de uma parte: “trabalhai para vós, trabalhai, trabalhai para vós. A palha é o vosso alimento. Os grãos são para os vossos donos. Não pareis! O ar está tão fresco!...” A canção só servia para nos entreter, pois o calor e o pó tornavam este trabalho muito difícil. Os homens e os bois invadiam a eira, enquanto os bois espezinhavam o local, os homens mexiam as espigas com as forquilhas.

-Isso era muito complicado!!! Vocês ganhavam algum lucro com esse trabalho?

-Não, os donos das terras eram nossos inimigos naturais, logo que as espigas amareleciam chegavam como gafanhotos, mediam os campos, a seguir a quantidade de grão, e diziam aquilo que nós, os camponeses, deveríamos entregar aos agentes do tesouro ou aos administradores do deus Amon, que possuía as melhores terras do país. Como vês a nossa vida não era nada fácil, os senhores, esses sim, lucravam com o nosso trabalho sem se cansarem, pois em geral observavam-nos sentados em tamboretes, à sombra das árvores e com mantimentos ao alcance das mãos!

Estávamos nós a falar e tocou, tivemos de voltar para as aulas, adiando assim, a continuação da conversa, mas mesmo assim consegui compreender como a vida dos camponeses no antigo Egipto era muito complicada!


 



Catarina Cruz