|
Um
dia Complicado
Há bastante, tempo atrás, existiu uma grandiosa civilização que dominava
todo o Mediterrâneo, a que chamamos, a civilização romana. Para
conseguirem gerir todo o seu extenso império, tiveram de aprender a
viver em sociedade. Contudo, os romanos eram diferentes, uns tinham
menos dinheiro que outros e sobreviviam à custa dos mais ricos.
Rapidamente criaram-se grupos sociais. Aos mais ricos damos o nome de
patrícios.
Imaginemos que vivemos nessa era de conquistas e derrotas, eu sou
cliente de um tal Rómulo, nada tem a ver com o primeiro rei de Roma, e
que tenho um trabalho muito difícil pela frente. Só o aceitei porque
estou muito mal de finanças e os impostos subiram de uma maneira
impressionante.
Tinha de falar com um Augustus ou coisa parecida, por isso passei pela
sua domus, visto que estávamos numa cidade. Falei com o escravo que
estava à porta, que me disse que o seu amo estava a comer o seu pequeno
almoço, com pão, mel, queijo, azeitonas e vinho diluído em água. O
escravo era muito negro, estava muito magro, notava-se que tinha uma
vida miserável.
Deviam ser umas 6 horas, e o escravo perguntou se eu queria esperar até
o "senhor" acabar o seu ientaculum. Eu concordei, embora ainda não
soubesse muito bem o que lhe havia de dizer.
Esperei bastante. Reparei que um homem como eu, ou seja, um plebeu
entrou numa sala que parecia ser uma espécie de escritório. Devia ser um
cliente. Ficaram lá durante muitas e muitas horas. Entretanto, fiquei a
observar o compluvium, que devo acrescentar, era muito bonito, embora eu
tenha visto poucos.
Passei longas horas à espera, tempo que aproveitei para pensar porque é
que me tinham pedido para matar aquele homem. Com as eleições tão perto,
devia ser para acabar com a concorrência ou coisa do género. Depois do
tempo em que fiquei à espera, já disse que foi muito? eles expulsaram-me
ao pontapé da domus! E não estou a exagerar!
Aquilo era só um trabalho, mas agora era pessoal! Pouco depois o
Augustus dirigiu-se ao templo. Ainda apanhei a sua mulher enquanto ela
estava a lamentar-se com a vizinha, que se o negócio continuasse a
descer, ela já não podia comprar aquela seda que tanto gostava.
Fui ao templo, mas não me atrevi a entrar. Quando o Augustus saiu,
dirigiu-se para a assembleia de cidadãos onde ficou até ao meio dia.
Pergunto-me o que fazem lá dentro. Mais tarde, à porta, olhou-me com um
ar de desprezo...Eu estava cada vez mais determinado a cumprir a minha
missão.
Segui-o até casa, muito sorrateiramente, tirando aquela parte em que
pisei a cauda do gato. Este estava-me a dar um trabalhão...Entrei-lhe em
casa e ninguém deu conta! Estavam todos a vê-lo comer, incluindo eu! O
seu prandium era uma carne qualquer que parecia estar assada, embora
pouco, peixe que não sei identificar, com certeza era importado, alguns
legumes, pão, uvas e vinho, provavelmente das suas vinhas.
Assim que acabou de comer dirigiu-se ao seu quarto para fazer a sesta.
Mas eu seria rápido. Muito silenciosamente, fui ao encontro do rico
adormecido. Em breve já não sentiria nada. Peguei no meu machado,
levantei-o e ...e....e....e alguém gritou! Com o susto, caí para trás!
Com aquele barulho todo, o Augustus acordou! Mais uma vez não consegui
cumprir a minha missão.
Tinha de arranjar um plano, ou não comeria nos próximos tempos. O
patrício voltou a sair de casa dirigindo-se para as termas. Era a minha
oportunidade! Levantei-me do chão e apanhei um atalho que poucos
conhecessem para chegar lá muito rapidamente.
Quando lá cheguei, já o patrício tinha entrado. Entrar nas termas não
era difícil, o complicado era entrar na zona dos mais poderosos. Mas
àquela hora parecia que os guardas estavam todos meio a dormir. Gostava
muito de entrar, pois sempre me interroguei como seria a experiência de
entrar num banho gelado e ir nadando até ao mais quente. A vingança
podia esperar, e depois de todo o meu trabalho merecia uma boa
recompensa. Entrei e a sensação é maravilhosa, recomendo vivamente. O
único problema é que perdi de vista a minha vítima e acho que acabaram
de reparar em mim.
Fugi da melhor maneira que pude. Agora, como é que eu descobriria onde
se tinha o Augustus metido? Olhei para o chão e ali estava a minha
resposta. Os grandes gladiadores! É claro! Como é que eu não pensei
nisso! Não respondam.
Fui até à arena onde se ouviam espectadores muito animados com as
grandes exibições (e com o pão). Nem sei o que fui lá fazer. Com tantas
pessoas não consegui encontrá-lo. Muito desanimado, fui para casa, se é
que ela não tinha ardido. O patrício devia estar a tomar a sua cena, com
a carne, o peixe, os legumes, o pão, a fruta, o vinho, e com tudo isso o
liquamen, aquele molho com gostinho picante, que é melhor nem se saber
do que é feito.
Fui pelo caminho mais longo, aquele que demorava horas a chegar a casa,
aquele que me fazia passar pela zona rica da cidade. Ao passar pela
domus mais luxuosa, maior e mais bem situada, ouvi gritos, risos e
conversas (para além de vómitos), tinha a certeza que no meio daquela
festa devia estar o homem da minha missão. Não sei como é que tal coisa
me passou pela cabeça, mas ele tinha a certeza. Entrei pela casa adentro
e, ao olhar para a direita, vi uma sala muito bem decorada. Tinham um
desenho lindo nos mosaicos do chão e os frescos das paredes eram lindos.
Pessoas ricas comiam até não poderem mais tudo o que estava em cima da
mesa. Parecia que nunca mais paravam de comer, e com cada prato cheio
vomitavam dois. Eu fiquei ali, especado, maravilhado com tanta comida
com um aspecto tão apetitoso.
Nem reparei que o meu alvo tinha saído a correr, só ouvi um som a
vomitado, razão pela qual o acabei por ver. Encostei-o à parede e
disse-lhe que ele me tinha dado muito trabalho. Sorri e espetei-lhe a
faca nas entranhas. Sentia-me orgulhoso, sei que pode parecer doentio,
mas aquele tinha sido o senhor que me tinha expulsado duma das suas
casas na semana passada.
Saí, sem que ninguém se apercebesse, enquanto o seu sangue vermelho
escarlate, que brilhava com a luz da lua, inundava a casa. Todos riam,
já deviam ter bebido uns copitos a mais, enquanto a noite era apenas uma
criança.
Amanhã já teria a minha verdadeira recompensa. E enquanto o sangue azul
escorria até à porta, pensei que demorou, mas valeu a pena!
Sara Félix, 7ºB
|
|