JOVENS HISTORIADORES

   

Um dia na vida de Leonardo da Vinci

 

 

Estou cada vez mais farto das tuas rebeldias, Salai! Mais um roubo e expulso-te de Florença! A ti e ao teu mestre que nunca mais acaba o trabalho que lhe pedi há mais de cinco meses!

- Desculpe lá senhor monge,, mas sabe perfeitamente que o Leonardo precisa de tempo para criar, para expor as suas ideias no papel. Segundo ele a criatividade não nasce de um momento para o outro. Há dias em que estamos inspirados e outros que não. Provavelmente tem tido muitos dias não. Mas quando tiver um dia sim, com certeza irá pintar o quadro para colocar no altar-mor do mosteiro da Annunziata, e acredite, ninguém ficará indiferente á sua magnifica obra e todos vão contemplá-la boquiabertos.

- Cada vez acredito menos que o teu querido mestre algum dia terá um dia sim. Não imaginas a pena que tenho em ter aceite a renuncia de Filippino Lippi ao projecto. Ele teve a enorme cortesia de deixar que fosse o Leonardo a fazer o quadro para isto… De certeza que se fosse com ele o quadro já estava pendurado no mosteiro.

- Ainda se vai arrepender de tudo o que tem dito. O Leonardo é um génio! Infelizmente actualmente anda ocupado com outro tipo de temas que não a arte, mas os génios são mesmo assim, imprevisíveis.

- Um génio?! O Leonardo é mas é um doido varrido! Já viste a quantidade de cadáveres que ele tem em casa? Mas o que é que ele fará com aquela porcaria toda? Cá para mim come as pessoas vivas e depois tira-lhes os ossos para fazer colecção. É a única explicação que encontro.

- Primeiro é claro que não come as pessoas vivas. O Leonardo é vegetariano e adora animais, incluindo humanos. Logo nunca faria uma coisa dessas. Segundo, você sabe perfeitamente que para além de pintor e escultor, engenheiro e arquitecto o da Vinci adora estudar anatomia por isso é que tem os cadáveres em casa, para os observar e estudar. Tal como ele me disse há alguns anos, que jamais esquecerei esta citação: “ a observação é tudo. Começa com o que estás a ver e aprende com o que podes descobrir a partir daí.”

- Ai, ai…Leonardo da Vinci e as suas citações manhosas. Então e sobre aqueles pássaros enormes feitos de metal que ele diz poderem voar, aqueles barcos para debaixo de água, aqueles balões que dá para fazer grandes descidas. Vais-me dizer que isso tudo também é verdade?

- Bem lá nisso nem eu acredito muito. O Leonardo diz que esses pássaros grandes a que deu o nome de helicópteros vão poder voar tal como as aves que ele observa miraculosamente. Diz que o voo destas funciona, tal como tudo na vida, sobre leis matemáticas. Eu acho isto um bocado impossível mas olhe, desde que ele inventou o tear mecânico que funciona mesmo já não sei se terá razão ou não.

- Pois de facto ele lá mérito tem. Basta ver a quantidade de pontes, canais, ruas, edifícios, esculturas, quadros etc.. que ele fez até hoje. Mas é um bocado para o estranho com essas engenhocas todas.

- È estranho, é. E ainda diz que quem não conhece a certeza suprema da matemática vive na confusão. Então onde é que ele vive?

-Ai…é mesmo doido! Bem, tenho de ir. Até qualquer dia.

-Adeusinho então.

Ao se despedir do monge, Salai caminhou em direcção a casa. Qual não é o seu espanto quando se depara com Leonardo da Vinci a sair da habitação com um quadro por baixo do braço esquerdo.

- Então Leonardo, onde vais? – perguntou Salai bastante admirado.

- Mas quem és tu? E o que tens a ver com o que estou a fazer e para onde me dirijo? – respondeu da Vinci muito intrigado e sem fazer a mínima ideia de quem era aquele sujeito que por mera coincidência vivia na mesma casa que ele há mais de dez anos.

-Ai, não acredito que voltou a ter uma crise de memória! Pelo menos isso significa que esteve bastante inspirado. O que quer dizer que pode finalmente ter concluído o quadro. – disse Salai, primeiro um pouco triste e desiludido mas depois bastante entusiasmado.

- O que é que estás para aí a dizer? Olha não sei quem és, mas como não tens cara de má pessoa, vou-te dizer o meu destino: Vou ali ao mosteiro entregar um quadro que já devia ter feito á muito tempo. Mas mais vale tarde que nunca! – disse Leonardo.

- Aleluia! Finalmente estiveste inspirado! Adoro-te Leonardo! – disse Salai imensamente feliz.

Leonardo ainda balbuciou umas palavras. Mas nada de importante com certeza, e continuou o seu caminho em direcção ao mosteiro. Chegou lá e entregou o quadro ao monge. Este não cabendo em si de contente, foi logo colocá-lo na parede e espalhar a notícia por toda a Itália. Nesse mesmo dia chegaram centenas de pessoas para visualizar a obra do génio e a fila á porta do mosteiro era imensamente grande.

O único problema desta agitação toda foi o facto de Isabella, uma marquesa que tinha oferecido hospitalidade a da Vinci e a Salai, também vir a saber do caso, e como é lógico não lhe ter agradado nada. É que ocorre que esta marquesa, nos dias em que Leonardo estivera hospedado em casa dela, pedira-lhe que ele pintasse um retrato seu. Leonardo como não gostava do seu exagerado charme não o tinha feito até á data. Mas também não podia deixar de fazer pois seria uma deselegância e Leonardo era um cavalheiro. Então apressou-se a fazer não um retrato á séria mas apenas um pequeno desenho para que nem caísse mal nem caísse bem demais. Ou seja, para que não ficasse deselegante mas para que também não gastasse muito tempo no feito, de maneira a que Isabella não se sentisse lisonjeada. Até aqui parecia estar tudo resolvido. O pior foi quando a marquesa pediu para que Leonardo pintasse o desenho. Da Vinci não queria de todo fazer-lhe a vontade. Mas também ainda estava bastante presente na sua memória o dia em Isabella pôs em tribunal Bellini por este ter feito um mau retrato da marquesa.

Não querendo correr este tipo de riscos Leonardo da Vinci viu-se obrigado a fugir do local, começando uma viagem por toda a Itália.

Este foi um dos muito dias atribuladíssimos do grande génio renascentista Leonardo da Vinci.



 



Beatriz ( 8º A)